A versão do outro
Ela
vive de procrastinação, constatei enquanto averiguava seu perfil e sua vida
pelo meu smartphone – em uma das mãos o celular, na outra a quarta dose de uísque
– vive agora, de uns dois anos pra cá, ou não vive, sei lá. Antes era cheia de
gás, uma dessas menininhas que são tudo ao mesmo tempo, querem amar, querem ser
correspondidas e querem sofrer de amor pra dar emoção a vida. Ela era a
intelectual, a porra louca e a pessoa que mais me tirava do sério. Maus tempos.
Ou não. Me acostumei a ser amado, mesmo não querendo e não amando. Me acostumei
a ser o bandido a quem ela sempre retornava, me acostumei com ela sempre fugir
e voltar. Agora ela não foge mais, não ama mais e não me culpa mais (só um
pouco, às vezes, nem se compara...). Fato é que ela mudou bastante nos últimos tempos,
ganhou um pouco de malícia, e de tristeza também. Ela anda preguiçosa, evitando
fazer até o que gosta, o que antes parecia primordial pro seu bem estar.
Escrever, por exemplo. Ela escreve muito bem, suas palavras fluem, o problema é
o tema – que costumava ser sempre eu. Acho que é mais fácil pra ela se
expressar quando nada está bom. Ela é bem cri cri, chata pra caralho, pra falar
a verdade. Mas agora está feliz, encontrou quem a mereça.
Eu
continuo o mesmo, bebendo mais, é claro, mas isso não vem ao caso. O importante
é que, apesar de muita água ter passado por de baixo da ponte que construímos –
e destruímos várias vezes pra reconstruir depois – continuamos nos importando
sem dar muita importância.
Devo
ter cuspido cerveja quente na cruz.
Adorei o exercício de colocar a pena do escritor na mão do personagem oposto e vislumbrar o que ele pensa. Incrível amor. Parabéns!
ResponderExcluirFicou incrível amor, acho que meu preferido até o momento. :)
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