Retrospectiva (2009)

Baú

Nesse fosco baú de lembranças
Guardo acorrentada a minha esperança
Para que ela não mais me escape
Para que ela não se afunde nesse mar
Mar escuro, cheio de tubarões
Tubarões sem alma, comedores de corações!..
Por de baixo daquela pedra mágica
Ficam esmagadas as minhas risadas
Para que mesmo destruídas
Eu possa guardá-las
Guardá-las para o resto de minha jornada!..
Dentre aquele cardume de peixes dourados
Existem fagulhas de meu passado
Fagulhas intensas e tristes
Que me obrigaram a crescer e a esquecer,
Esquecer dos contos de fadas
Das pessoas que por mim foram amadas
E da inocência que me foi tirada!.
Tudo que guardo neste baú é o que sou
O que já sonhei
É o que não consegui conquistar,
É o que ainda hei de amar (..)


“Deliriosamente Sã”

Há dúvidas em mim tanto quanto há cheiro de terra úmida antes da chuva,
Meus momentos de tédio são tão intensos quanto os de paixão,
Minha ansiedade assim como o tempo devora o passado, engoliu a boca do meu estomago,
Meu humor muda mais do que a forma da lua, Meu interior é maior e mais complexo que o universo...
Eu mudo, me calo, repenso; Enquanto o mundo a minha volta torna-se cada pouco um pouco mais tenso, enquanto a vontade alheia de relaxá-lo transforma-se cada vez mais relaxada. Enquanto o caminho para uma sociedade sóbria, vira a cada KM uma longa estrada...


Três pontinhos em uma página vazia...

Nada mais, nada menos
É como me sinto de noite e de dia!
Nostalgia fria e incoerente
Não convém para um coração ferido que nada mais sente,
Apenas assente.
Representa imensa complexibilidade e eco
Eco do passado que percorre a imensidão desbotada do presente
Onde as folhas já são secas e as lembranças tornam-se um peso
Onde o coração cansado de sofrer fez-se preso
E os finais de tarde não significam nada além de curiosos pontinhos...
Pontinhos escuros e chamativos, pregados a uma vasta e imensa vida pálida.
Apenas palidez, não mais sensatez...
Reticências vazias e amarrotadas que seguem o vento
Vento que apenas as fazem flutuar pelo tempo (...)
___

Assim como Amelie Poulain, Cristina apega-se aos pequenos detalhes. Vê-se como alguém de estatura mediana, de mãos macias, olhos brilhantes e cabelos finos e sedosos. Seu coração pulsante revela sentimentos através de seu olhar. Seus momentos vagos, ou até mesmo ocupados, são preenchidos de imaginação e sonhos.
Sentada na varanda, correndo os olhos em um livro qualquer, imagina um lindo chalé, daqueles com lareira, cortinas brancas na janela de vidro dividida em quatro partes, como se cada uma delas focasse em um ângulo diferente da linda paisagem campestre, revelando a luz do dia e a imensidão do breu noturno. Na mesinha de centro da sala, ao lado da toalha de crochê e do vasinho de margarida; duas marcas de xícaras que descuidadamente mancharam a madeira demonstram que ali duas pessoas conversaram, ou simplesmente apreciaram a energia exalada por cada poro de cada metro de pele um do outro. Talvez tivessem tomado café, ou um chocolate quente, no qual o redemoinho de chantilly encontrava-se coberto de pitadas de canela em pó. Passaram horas e horas naquele sofá cor de caramelo, de modelo antigo e almofadas fofas. Riram, revelaram-se mais um para o outro a cada palavra, cada gesto; Até que enfim a lua iluminou o céu, as estrelas preencheram a imensidão azul escuro, os grilos começaram a cricrilar. E, depois de um longo dia que passou rápido demais, o casal se sentou na escada da frente, enrolado em uma manta xadrez em vermelho e bege, observando o céu e as luzes distantes de uma pequena cidade há alguns quilômetros dali. Sentiam-se preenchidos, fervilhados de amor, de aconchego, como se o mundo fosse resumido naquele dia, àqueles momentos, naquele amor.
Quem sabe em algum lugar, esse dia realmente ocorreu, um casal realmente se amou, como se não houvesse mais ninguém no mundo. Quem sabe esse não será o fabuloso destino de Cristina, assim como foi fabuloso o de Amelie...
Quem sabe o amor, quem sabe a brisa do campo, quem sabe sonhos realmente se realizem (...)

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